Natureza
Para muitas pessoas a Serra do Cipó é um local místico, uma terra de cristais e discos voadores, para outras é local propício para a prática de inúmeras modalidades de esportes radicais, mas não há dúvida, em geral é a beleza e pureza das águas que atraem o maior número de visitantes.
Na região, além de toda infra-estrutura para receber turistas, destacam-se as ricas festas populares e religiosas, que mantêm vivos o folclore e a tradição do interior de Minas. Um lugar que parece ter saído dos causos antigos aonde a água é pura, o povo é hospitaleiro e o tempo passa devagar
Ecosistemas
Campos Rupestres
A maior parte da Serra do Cipó é ocupada por campos rupestres, vegetação que ocorre em solos rasos e pobres em nutrientes, muito pedregosos e arenosos. Nas baixas altitudes, o campo rupestre apresenta espécies do cerrado em meio a espécies típicas do campo rupestre, como os cactáceos. Também ocorrem numerosos cursos-d’água, com nascentes brejosas (algumas vezes silvestres) e correntes sobre pedras (lajes e pedras roladas) e com muitas cachoeiras e corredeiras, geralmente estacionais (correntes apenas em épocas chuvosas). Estes córregos perenes apresentam flora especializada, sendo característica a 'taioba' ou 'imbé'
Nas grandes altitudes, acima de 1000 metros, são comuns os campos de altitude, modalidade do campo rupestre caracterizada por serem desprovidos de pedras aflorantes, geralmente muito úmidos (encharcados nas épocas chuvosas), com predomínio de capins, sempre-vivas e abundância de orquídeas terrestres.
Muitas vezes é difícil separar as duas fisionomias (campo rupestre e campo de altitude), pois o campo de altitude, úmido, aparece por vezes entremeado com grandes rochas, misturando-se a flora com a do campo rupestre. Muitas vezes as rochas abundantes estão completamente ocultas no solo, dando a impressão de campos úmidos, mas com flora característica do campo rupestre não alagável.
Além de campos rupestres, o Parque Nacional da Serra do Cipó apresenta áreas expressivas com campos (ricos em gramíneas e ciperáceas), cerrado (em tensão ecológica com campos rupestres) e cerradões, matas com feições e floras diversificadas (de altitude, de brejo, ripárias) e ambientes aquáticos (rios, ribeirões, brejos e lagoas anexas a cursos-d’água).

O Parque Nacional da Serra do Cipó apresenta ainda afloramentos rochosos (predominantemente de quartzito, com áreas limitadas de mármore metacalcário e de conglomerados de ferro e manganês – lateritas) com flora especializada (como líquens, orquídeas e cactos).
A Área de Proteção Ambiental Morro da Pedreira, unidade de conservação federal que envolve completamente o Parque Nacional (incluindo a Reserva Particular do Patrimônio Natural; RPPN Mata da Cachoeira, também federal) possui pequenos afloramentos de granito, diabásio e gnaisse calcário, além de afloramentos extensos de mármore (calcário altamente metamorfizado). Mas a fisionomia mais expressiva na APA Morro da Pedreira é o campo rupestre, com suas duas feições (campo rupestre senso estrito e campo de altitude).
Cerrado
Cerrado é vegetação rica em espécies endêmicas¹, caracterizada por árvores relativamente baixas, com flora específica, crescendo em solos muito ácidos, geralmente muito férteis, mas pobres em fósforo e cálcio. O cerrado é mais comum a baixas altitudes, com fisionomias desde muito abertas (campo limpo) até silvestres (cerradões). Existem 'manchas' de cerrado no alto da serra, até a 1500 metros de altitude. Ocorrem poucas plantas trepadeiras e raras plantas com espinhos. Em todo o Brasil a destruição do cerrado é rápida, para formação de áreas agrícolas e de pastagens.
Algumas espécies são típicas dos cerrados do Cipó: as bromeliáceas 'ananaz do campo' e 'gravatá', o 'articum', o 'cajuí', o 'pequizeiro' e a 'cagaiteira'. Diversos 'paus-terra' de flores grandes e vistosas ocorrem na Serra do Cipó, ao lado da 'mangabeira', da 'lobeira' e das leguminosas 'barbatimão', 'sapuvuçu', 'monjolo', 'jatobádocampo', 'sucupira-preta' e 'vinhático do campo'.
Matas ciliares
São representativas as áreas de matas ciliares, na qual abundam: 'pau d’óleo', 'monjolo', 'tamanqueira', 'tapiá guaçu', 'pau pombo' e o 'ingazeiro banana'. Ocorre nessas matas ao longo dos rios e córregos o 'jequitibá', de grande porte, porém em baixa densidade ecológica². Plantas trepadeiras são abundantes, como o 'timbó'.
Matas de brejo (mananciais) são relativamente raras na região, apresentando 'cana do brejo' e 'biri do brejo', herbáceas, o arbusto 'capeba' e as árvores 'cedro do brejo', 'gameleira' e 'pinha do brejo'.
Mananciais ou nascentes
são locais onde aflora a água dos lençóis freáticos. Algumas vezes apresenta 'fervedores', 'olhos d’água' ou minas de barranco, com ou sem lagoas, mas frequentemente são áreas encharcadas relativamente extensas, com brejos abertos ou matas, nas quais nascem um ou mais córregos.
Mata atlântica
No extremo norte e nordeste do Parque ocorrem áreas de mata atlântica típica, na qual ocorrem a grande palmeira 'indaiá' e o 'palmiteiro' ou 'juçara', com muitas plantas epífitas. Apresenta flora e fauna distinta daquelas da região do cerrado a oeste.
Mata semidecídua
A oeste da Serra do Cipó ocorrem áreas de matas cujas árvores perdem as folhas anualmente, embora muitas espécies as rentenham. Essa mata semidecídua tem flora variável, conforme as rochas que originaram os respectivos solos, e conforme a acidez e a pedregosidade dos solos. As matas secas são estacionais e semidecíduas, ou seja, muitas de suas espécies perde as folhas total ou parcialmente na estação seca. Grande parte das matas do Brasil planáltico apresenta esse comportamento.
Por não ser a mata semidecídua especialmente protegida por lei, as área de matas com essa feição, por mais ricas em biodiversidade que sejam, estão sendo rapidamente destruídas, especialmente pelos meios legais, ou seja, após processo de autorização de desmate segundo as leis vigentes. Restam, portanto, muitas áreas de matas de extensão pequena, disjuntas e praticamente sem conexão entre si, pois as matas ciliares não são respeitadas. Proprietários rurais permitem a entrada de gado nas matas, por não cercá-las. O capim penetra nas áreas danificadas pelo gado, permitindo que o fogo avance no interior dos remanescentes silvestres. Esses fatores somados vão aos poucos impedindo a regeneração e transformando as poucas matas em áreas abertas de pasto, rapidamente destruídas pelo excesso de pastoreio, pela erosão e pelo endurecimento dos solos (laterização).
Endemismos
Muitas espécies da Serra do Cipó são endêmicas, tendo distribuição limitada a trechos do Maciço do Espinhaço. Os campos rupestres e os campos de altitude são especialmente ricos em endemismos, como Vellozia gigantea e Vellozia piresiana (Veloziáceas), Constantia cipoensis (Orquidáceas) e Coccoloba cereifera (Poligonáceas). Na parte baixa do Parque ocorre o cacto endêmico Arthrocereus odorus (Cactáceas), que só existe na Serra do Cipó, em campos rupestres secos com cerrado, abaixo de 900 metros de altitude. A maioria das plantas dessa espécie se encontra em campos rupestres com cerrado denso no entorno imediato do Parque Nacional.
¹Espécies endêmicas são as espécies cuja distribuição total se restringe a áreas relativamente pequenas, como uma região ou um Estado, ou se limita a uma dada formação vegetal, como o cerrado. Diz-se, então: 'essa espécie é endêmica da Serra do Cipó' ou 'endêmica do cerrado'.
²Densidade ecológica é uma das formas de expressar se uma dada espécie é comum ou rara, em número de indivíduos por unidade de área em ambiente favorável. Diz-se: 'O jequitibá apresenta densidade de tantos indivíduos por hectare de mata ciliar'.
Fonte: Celso do Lago Paiva